O bromo foi descoberto independentemente por dois químicos em 1825-1826. O químico francês Antoine-Jérôme Balard (1802-1876), então com apenas 23 anos e trabalhando como assistente na Faculdade de Ciências de Montpellier, foi o primeiro a isolar e identificar formalmente o bromo em 1826. Balard estudava as águas-mãe das salinas de Montpellier, resíduos altamente concentrados em sais após a evaporação da água do mar para a produção de sal.
Ao tratar essas águas-mãe com cloro, Balard observou o aparecimento de uma substância avermelhada que conseguiu isolar por destilação. Ele reconheceu rapidamente que se tratava de um novo elemento químico, distinto do cloro e do iodo. Ele propôs inicialmente o nome muride (do latim muria, salmoura), mas o químico francês Louis-Jacques Thénard sugeriu bromo, do grego bromos, que significa fedor, em referência ao odor acre e sufocante característico do bromo.
Paralelamente, o químico alemão Carl Jacob Löwig (1803-1890), então estudante em Heidelberg, havia isolado o bromo em 1825 a partir de uma fonte de água mineral de Bad Kreuznach. No entanto, Löwig atrasou a publicação de seus resultados porque desejava produzir uma quantidade maior do elemento para estudá-lo melhor. Quando finalmente apresentou seu trabalho em 1826, Balard já havia publicado sua descoberta, recebendo assim o reconhecimento oficial pela descoberta do bromo.
A descoberta do bromo completou a família dos halogênios então conhecida (cloro, iodo, bromo), reforçando a compreensão das relações periódicas entre os elementos. O bromo destacou-se imediatamente por sua propriedade única de ser o único não-metal líquido à temperatura ambiente, característica que compartilha apenas com o mercúrio entre todos os elementos.
O bromo (símbolo Br, número atômico 35) é um halogênio do grupo 17 da tabela periódica. Seu átomo possui 35 prótons, geralmente 44 nêutrons (para o isótopo mais abundante \(\,^{79}\mathrm{Br}\)) e 35 elétrons com a configuração eletrônica [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁵.
À temperatura ambiente, o bromo elementar apresenta-se como um líquido denso e móvel de cor marrom-avermelhada, formado por moléculas diatômicas Br₂. É o único não-metal líquido em condições padrão, uma propriedade notável que o distingue de todos os outros halogênios (o flúor e o cloro são gasosos, o iodo é sólido e o astato é extremamente raro e radioativo).
O bromo líquido possui uma alta densidade de 3,12 g/cm³, cerca de três vezes a da água. É moderadamente volátil à temperatura ambiente, produzindo vapores tóxicos e corrosivos de cor marrom-avermelhada que se espalham facilmente no ar. Esses vapores têm um odor penetrante e irritante característico, reconhecível mesmo em concentrações muito baixas.
O bromo funde a -7,2 °C (265,9 K), formando um sólido cristalino alaranjado-avermelhado com uma estrutura ortorrômbica. Ele ferve a 58,8 °C (332,0 K), produzindo vapores densos de cor marrom-avermelhada. Essa faixa de temperatura relativamente estreita para o estado líquido (cerca de 66 °C) explica por que o bromo é líquido em condições normais de laboratório, mas pode ser facilmente solidificado ou vaporizado.
Ponto de fusão do bromo: 265,9 K (-7,2 °C).
Ponto de ebulição do bromo: 332,0 K (58,8 °C).
Ponto crítico do bromo: 588 K (315 °C) a 103 bar.
| Isótopo / Notação | Prótons (Z) | Nêutrons (N) | Massa atômica (u) | Abundância natural | Meia-vida / Estabilidade | Decaimento / Observações |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Bromo-79 — \(\,^{79}\mathrm{Br}\,\) | 35 | 44 | 78,918337 u | ≈ 50,69 % | Estável | Isótopo estável mais abundante do bromo, ligeiramente majoritário no bromo natural. |
| Bromo-81 — \(\,^{81}\mathrm{Br}\,\) | 35 | 46 | 80,916290 u | ≈ 49,31 % | Estável | Segundo isótopo estável, quase tão abundante quanto o bromo-79. Utilizado em espectroscopia de RMN. |
| Bromo-77 — \(\,^{77}\mathrm{Br}\,\) | 35 | 42 | 76,921379 u | Sintético | ≈ 57,0 horas | Radioativo (captura eletrônica). Emissor de pósitrons usado em imagens PET para pesquisa médica. |
| Bromo-80 — \(\,^{80}\mathrm{Br}\,\) | 35 | 45 | 79,918529 u | Sintético | ≈ 17,7 minutos | Radioativo (β⁻, 92%; β⁺, 8%). Produzido em reatores nucleares, usado em pesquisa. |
| Bromo-82 — \(\,^{82}\mathrm{Br}\,\) | 35 | 47 | 81,916804 u | Sintético | ≈ 35,3 horas | Radioativo (β⁻). Emissor gama usado como traçador em hidrologia e medicina nuclear. |
| Bromo-83 — \(\,^{83}\mathrm{Br}\,\) | 35 | 48 | 82,915175 u | Sintético | ≈ 2,40 horas | Radioativo (β⁻). Produzido por fissão nuclear, usado em pesquisa fundamental. |
N.B.:
Camadas eletrônicas: Como os elétrons estão organizados ao redor do núcleo.
O bromo possui 35 elétrons distribuídos em quatro camadas eletrônicas. Sua configuração eletrônica completa é: 1s² 2s² 2p⁶ 3s² 3p⁶ 3d¹⁰ 4s² 4p⁵, ou simplificada: [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁵. Essa configuração também pode ser escrita como: K(2) L(8) M(18) N(7).
Camada K (n=1): contém 2 elétrons na subcamada 1s. Essa camada interna está completa e é muito estável.
Camada L (n=2): contém 8 elétrons distribuídos como 2s² 2p⁶. Essa camada também está completa, formando uma configuração de gás nobre (neônio).
Camada M (n=3): contém 18 elétrons distribuídos como 3s² 3p⁶ 3d¹⁰. A presença da subcamada 3d completa influencia as propriedades químicas do bromo.
Camada N (n=4): contém 7 elétrons distribuídos como 4s² 4p⁵. Esses sete elétrons são os elétrons de valência do bromo, com um elétron faltando para completar o octeto.
Os 7 elétrons da camada externa (4s² 4p⁵) são os elétrons de valência do bromo. Com um elétron faltando para atingir a configuração estável do gás nobre criptônio, o bromo é extremamente reativo e tende fortemente a ganhar um elétron para formar o íon brometo Br⁻.
O estado de oxidação mais comum do bromo é -1, onde ele ganha um elétron para formar o íon brometo Br⁻ com a configuração [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁶, isoeletrônico ao criptônio. Os brometos são extremamente estáveis e representam a forma mais comum do bromo na natureza, especialmente nos oceanos, onde o brometo está presente em uma concentração de cerca de 65 mg/L.
O bromo também apresenta estados de oxidação positivos quando combinado com elementos mais eletronegativos, notavelmente oxigênio e flúor. O estado +1 aparece no ácido hipobromoso (HBrO) e nos hipobromitos, que são oxidantes poderosos, mas instáveis. O estado +3 existe no ácido bromoso (HBrO₂) e nos bromitos, que também são instáveis.
O estado de oxidação +5 é encontrado no ácido brômico (HBrO₃) e nos bromatos, que são oxidantes energéticos usados em várias aplicações industriais. Esses compostos são mais estáveis do que seus homólogos de menor estado de oxidação. O estado +7 aparece no ácido perbrômico (HBrO₄) e nos perbromatos, os oxidantes mais poderosos da química do bromo, sintetizados pela primeira vez em 1968.
Estados de oxidação intermediários, como +4 no dióxido de bromo (BrO₂), são raros e instáveis. O bromo elementar (estado 0) forma moléculas diatômicas Br₂ estabilizadas por uma ligação covalente simples.
A eletronegatividade do bromo (2,96 na escala de Pauling) é menor que a do cloro (3,16), mas maior que a do iodo (2,66), refletindo sua posição intermediária no grupo dos halogênios. Essa eletronegatividade moderada explica por que o bromo pode formar tanto compostos iônicos (com metais) quanto covalentes (com não-metais).
O bromo é um oxidante poderoso, embora menos reativo que o cloro e o flúor. Ele reage vigorosamente com a maioria dos metais para formar brometos metálicos. Com o sódio, a reação é particularmente espetacular: 2Na + Br₂ → 2NaBr, produzindo uma chama intensa e fumaça branca de brometo de sódio.
O bromo reage com o hidrogênio em alta temperatura ou sob irradiação UV para formar brometo de hidrogênio (HBr), um ácido forte em solução aquosa: H₂ + Br₂ → 2HBr. Essa reação é muito mais lenta do que a do cloro com o hidrogênio e geralmente requer um catalisador ou energia de ativação.
Com a água, o bromo reage lentamente para formar uma mistura de ácido bromídrico e ácido hipobromoso: Br₂ + H₂O ⇌ HBr + HBrO. Essa reação é reversível e o equilíbrio favorece os reagentes. A água de bromo, uma solução aquosa saturada de bromo, é amarela-laranja e possui propriedades oxidantes.
O bromo reage com bases para formar brometos e hipobromitos (a frio) ou bromatos (a quente): 3Br₂ + 6OH⁻ → 5Br⁻ + BrO₃⁻ + 3H₂O (a quente). Essa reação de desproporcionamento é característica dos halogênios em meio básico.
O bromo ataca vigorosamente a maioria dos compostos orgânicos, particularmente hidrocarbonetos insaturados (alquenos e alquinos). A reação de adição de bromo às duplas ligações é instantânea e causa a descoloração característica da solução de bromo, transformando o marrom-avermelhado em incolor: C₂H₄ + Br₂ → C₂H₄Br₂. Essa reação é usada como teste qualitativo para detectar duplas ligações.
O bromo também é capaz de substituir os átomos de hidrogênio em compostos orgânicos, na presença de luz ou catalisadores. Os compostos organobromados assim formados são amplamente utilizados em síntese orgânica como intermediários reacionais. O bromo também pode formar complexos de transferência de carga com certas moléculas aromáticas.
Com o fósforo vermelho, o bromo reage violentamente para formar tribrometo de fósforo: 2P + 3Br₂ → 2PBr₃. Com o enxofre, forma vários brometos de enxofre, como S₂Br₂. O bromo também oxida muitos metais de transição para seus estados de oxidação superiores.
O bromo elementar é extremamente tóxico e corrosivo. Os vapores de bromo irritam gravemente os olhos, as vias respiratórias e as mucosas, mesmo em concentrações muito baixas. A inalação de vapores de bromo pode causar danos pulmonares graves, edema pulmonar tardio e, em casos graves, a morte. O limite de exposição ocupacional é de 0,1 ppm em 8 horas, refletindo a alta toxicidade desse composto.
O contato cutâneo com bromo líquido causa queimaduras químicas dolorosas e de cicatrização lenta. O bromo penetra rapidamente através da pele, causando lesões profundas e necróticas. Respingos nos olhos podem causar danos permanentes, incluindo cegueira. O uso de equipamentos de proteção individual adequados (luvas resistentes, óculos de segurança, capela de exaustão) é obrigatório ao manipular bromo.
O bromo deve ser manipulado em recipientes de vidro ou certos plásticos resistentes (PTFE, PVDF), pois ataca a maioria dos metais e materiais orgânicos. O armazenamento requer frascos herméticos de vidro âmbar em áreas ventiladas e refrigeradas para minimizar a evaporação.
Certos compostos organobromados, especialmente os retardantes de chama polibromados (PBDE), levantam preocupações ambientais e de saúde. Essas substâncias persistentes acumulam-se na cadeia alimentar e podem perturbar os sistemas endócrino e nervoso. Vários retardantes de chama bromados foram progressivamente proibidos ou restringidos em muitos países.
O brometo de metila, antes amplamente utilizado como fumigante agrícola, foi identificado como destruidor da camada de ozônio e agora é estritamente controlado pelo Protocolo de Montreal. Seu uso foi praticamente eliminado nos países desenvolvidos, com apenas algumas aplicações críticas ainda autorizadas sob isenção.
O bromo é sintetizado nas estrelas por vários processos de nucleossíntese estelar. Os dois isótopos estáveis do bromo (\(\,^{79}\mathrm{Br}\) e \(\,^{81}\mathrm{Br}\)) são produzidos principalmente durante a queima explosiva do silício em supernovas do tipo II, bem como pelo processo s (captura lenta de nêutrons) em estrelas da ramificação assintótica das gigantes (AGB).
A abundância cósmica do bromo é extremamente baixa, cerca de 7×10⁻¹⁰ vezes a do hidrogênio em número de átomos, o que o torna um dos elementos mais raros do universo. Essa raridade é explicada por vários fatores: o bromo possui um número ímpar de prótons (35), o que o torna menos estável do que os elementos com número par, e está localizado em uma região da curva de estabilidade nuclear onde os processos de nucleossíntese são menos eficientes.
A relação isotópica ⁷⁹Br/⁸¹Br no sistema solar é de aproximadamente 1,03, refletindo as contribuições relativas dos diferentes processos de nucleossíntese. A análise dessa relação em meteoritos primitivos e inclusões refratárias fornece informações sobre as condições de formação do sistema solar e a contribuição de diferentes populações estelares para sua composição química.
As linhas espectrais do bromo neutro e ionizado são difíceis de observar nos espectros estelares devido à muito baixa abundância cósmica desse elemento. No entanto, linhas de bromo foram detectadas em algumas estrelas quimicamente peculiares e em certos objetos astrofísicos exóticos. Essas observações ajudam a entender o enriquecimento químico das estrelas e a evolução química das galáxias.
N.B.:
O bromo está presente na crosta terrestre em uma concentração média de cerca de 0,0003% em massa (3 ppm), o que o torna um elemento relativamente raro. Ele geralmente não forma seus próprios minérios, mas é extraído principalmente da água do mar e das salmouras naturais, onde está presente como íon brometo (Br⁻).
O oceano é a principal fonte de bromo, com uma concentração média de 65 mg/L (cerca de 65 ppm), representando mais de 100 bilhões de toneladas de bromo dissolvido nos oceanos do mundo. O bromo marinho provém principalmente do intemperismo de rochas continentais e da atividade vulcânica submarina. As fontes terrestres incluem salmouras de depósitos salinos, lagos salgados e certas fontes termais.
A produção mundial de bromo é de cerca de 550.000 toneladas por ano, extraídas principalmente nos Estados Unidos (Arkansas, Michigan), China, Israel (Mar Morto) e Jordânia. A extração é feita por oxidação química do íon brometo em bromo elementar, geralmente usando cloro como oxidante: 2Br⁻ + Cl₂ → Br₂ + 2Cl⁻. O bromo é então purificado por destilação.
Os principais produtores mundiais controlam de perto o mercado do bromo devido à sua natureza estratégica para várias indústrias. Os Estados Unidos e Israel dominaram historicamente esse mercado, embora a China tenha se tornado um grande produtor nas últimas décadas. O preço do bromo flutua de acordo com a demanda industrial, especialmente nos setores de retardantes de chama e fluidos de perfuração de petróleo.
O uso do bromo está evoluindo em resposta a preocupações ambientais e de saúde. Muitos retardantes de chama bromados estão sendo gradualmente substituídos por alternativas menos problemáticas. No entanto, novas aplicações estão surgindo, especialmente no armazenamento de energia (baterias de zinco-bromo) e na química fina, mantendo uma demanda estável por esse elemento.