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Última atualização: 1 de dezembro de 2025

Enxofre (Z=16): Da Alquimia Antiga à Bioquímica Moderna

Modelo do átomo de enxofre

História da descoberta do enxofre

O enxofre é um dos elementos conhecidos desde a Antiguidade, utilizado muito antes do conceito de elemento químico existir. Civilizações antigas (egípcios, gregos, romanos, chineses) utilizavam o enxofre nativo encontrado perto de vulcões para usos religiosos, medicinais e industriais. Os gregos antigos usavam o enxofre para branquear tecidos e como fumigante, enquanto os romanos o empregavam em seus processos metalúrgicos. Na alquimia medieval, o enxofre era considerado um dos três princípios fundamentais, junto com o mercúrio e o sal. Em 1777, Antoine Lavoisier (1743-1794) demonstrou definitivamente que o enxofre é um elemento químico e não um composto, incluindo-o em sua lista de elementos no Tratado Elementar de Química (1789). O nome enxofre vem do latim sulfur, provavelmente de origem sânscrita.

Estrutura e propriedades fundamentais

O enxofre (símbolo S, número atômico 16) é um não metal do grupo 16 (antigamente grupo VIA, família dos calcogênios) da tabela periódica. Seu átomo possui 16 prótons, 16 elétrons e geralmente 16 nêutrons em seu isótopo mais abundante (\(\,^{32}\mathrm{S}\)). Quatro isótopos estáveis existem: enxofre-32 (\(\,^{32}\mathrm{S}\)), enxofre-33 (\(\,^{33}\mathrm{S}\)), enxofre-34 (\(\,^{34}\mathrm{S}\)) e enxofre-36 (\(\,^{36}\mathrm{S}\)).
À temperatura ambiente, o enxofre é um sólido cristalino amarelo-limão, quebradiço e inodoro em sua forma elementar (o odor característico provém de seus compostos como H₂S). Densidade ≈ 2,07 g/cm³. O enxofre apresenta um polimorfismo notável com muitas formas alotrópicas. As principais são o enxofre ortorrômbico α (S₈, estável à temperatura ambiente, octaedros cíclicos), ponto de fusão: 388,36 K (115,21 °C), e o enxofre monoclínico β (estável acima de 95,3 °C). Ponto de ebulição do enxofre: 717,8 K (444,6 °C). O enxofre fundido apresenta propriedades viscosas extraordinárias que variam com a temperatura.

Tabela de isótopos do enxofre

Isótopos do enxofre (propriedades físicas-chave)
Isótopo / NotaçãoPrótons (Z)Nêutrons (N)Massa atômica (u)Abundância naturalMeia-vida / EstabilidadeDecaimento / Observações
Enxofre-32 — \(\,^{32}\mathrm{S}\,\)161631.972071 u≈ 94,99 %EstávelDe longe, o isótopo mais abundante do enxofre natural.
Enxofre-33 — \(\,^{33}\mathrm{S}\)161732.971459 u≈ 0,75 %EstávelUsado em geoquímica isotópica para rastrear processos biológicos antigos.
Enxofre-34 — \(\,^{34}\mathrm{S}\)161833.967867 u≈ 4,25 %EstávelImportante em geoquímica para estudar ciclos biogeoquímicos.
Enxofre-36 — \(\,^{36}\mathrm{S}\)162035.967081 u≈ 0,01 %EstávelIsótopo raro; usado como traçador em pesquisa ambiental.
Enxofre-35 — \(\,^{35}\mathrm{S}\)161934.969032 uNão natural87,37 diasRadioativo β\(^-\) que decai em cloro-35. Usado como traçador em biologia e medicina.
Outros isótopos — \(\,^{26}\mathrm{S}\) a \(\,^{49}\mathrm{S}\)1610 — 33— (variáveis)Não naturaisMilissegundos a segundosIsótopos instáveis produzidos artificialmente; física nuclear experimental.

Configuração Eletrônica e Camadas Eletrônicas do Enxofre

N.B. :
Camadas eletrônicas: Como os elétrons se organizam ao redor do núcleo.

O enxofre possui 16 elétrons distribuídos em três camadas eletrônicas. Sua configuração eletrônica completa é: 1s² 2s² 2p⁶ 3s² 3p⁴, ou simplificada: [Ne] 3s² 3p⁴. Essa configuração também pode ser escrita como: K(2) L(8) M(6).

Estrutura Detalhada das Camadas

Camada K (n=1): contém 2 elétrons na subcamada 1s. Essa camada interna está completa e é muito estável.
Camada L (n=2): contém 8 elétrons distribuídos como 2s² 2p⁶. Essa camada também está completa, formando uma configuração de gás nobre (neônio).
Camada M (n=3): contém 6 elétrons distribuídos como 3s² 3p⁴. Os orbitais 3s estão completos, enquanto os orbitais 3p contêm apenas 4 dos 6 elétrons possíveis. Portanto, faltam 2 elétrons para saturar essa camada externa.

Elétrons de Valência e Estados de Oxidação

Os 6 elétrons na camada externa (3s² 3p⁴) são os elétrons de valência do enxofre. Essa configuração explica suas propriedades químicas:
Ao ganhar 2 elétrons, o enxofre forma o íon S²⁻ (estado de oxidação -2), um estado comum em sulfetos metálicos, adotando assim a configuração do argônio [Ar].
Ao perder ou compartilhar elétrons, o enxofre pode apresentar vários estados de oxidação positivos: +2, +4 e +6, sendo este último observado no ácido sulfúrico H₂SO₄ e nos sulfatos.
O estado de oxidação 0 corresponde ao enxofre elementar, que existe em várias formas alotrópicas, sendo a mais estável o enxofre ortorrômbico S₈ (um ciclo de 8 átomos).

A configuração eletrônica do enxofre, com 6 elétrons em sua camada de valência, classifica-o entre os calcogênios (elementos do grupo 16). Essa estrutura confere-lhe propriedades características: grande versatilidade química com muitos estados de oxidação possíveis (-2, 0, +2, +4, +6), capacidade de formar cadeias e ciclos através da ligação S-S, e aptidão para formar ligações iônicas e covalentes. O enxofre pode aceitar 2 elétrons para atingir a estabilidade de um gás nobre, formando o íon sulfeto S²⁻ presente em muitos minerais. Também pode compartilhar seus elétrons em ligações covalentes, formando uma ampla variedade de compostos. Sua versatilidade química faz do enxofre um elemento essencial na química industrial, particularmente para a produção de ácido sulfúrico (o composto químico mais produzido no mundo), vulcanização da borracha e em muitos compostos organossulfurados importantes na biologia.

Reatividade química

O enxofre é moderadamente reativo à temperatura ambiente, mas muito reativo a altas temperaturas. Combina-se com quase todos os elementos químicos, exceto gases nobres e nitrogênio. O enxofre queima no ar com uma chama azul característica, produzindo dióxido de enxofre (SO₂) irritante e sufocante. Forma compostos em vários estados de oxidação: -II (sulfetos e tióis), +IV (SO₂, sulfitos) e +VI (SO₃, sulfatos, ácido sulfúrico H₂SO₄). O enxofre reage com metais para formar sulfetos, com hidrogênio para formar sulfeto de hidrogênio (H₂S, gás tóxico com cheiro de ovo podre), e com oxigênio para formar vários óxidos. A química do enxofre é extremamente rica, incluindo cadeias polissulfuradas, compostos organossulfurados e ligações dissulfeto essenciais em bioquímica.

Aplicações industriais e tecnológicas do enxofre

Papel biológico essencial

O enxofre é o sexto elemento essencial para a vida (C, H, N, O, P, S). Está presente em dois aminoácidos essenciais: a cisteína e a metionina, que constituem as proteínas de todos os seres vivos. As pontes dissulfeto (ligações S-S) entre resíduos de cisteína são cruciais para a estrutura tridimensional e a estabilidade das proteínas. O enxofre também está presente em várias coenzimas vitais como a coenzima A, a biotina (vitamina B₇) e o ácido lipoico. Desempenha um papel importante na desintoxicação celular através da glutationa, um potente antioxidante. Algumas bactérias utilizam o enxofre em seu metabolismo energético (bactérias redutoras de sulfato e oxidantes de enxofre), desempenhando um papel importante no ciclo biogeoquímico do enxofre. Fontes termais vulcânicas ricas em enxofre abrigam ecossistemas microbianos extremófilos únicos.

Ciclo geoquímico e abundância

O enxofre é o décimo elemento mais abundante no universo e é encontrado naturalmente em várias formas. Na crosta terrestre, representa cerca de 0,035% da massa. O enxofre nativo (elementar) é encontrado em regiões vulcânicas e perto de fontes termais. Também existe em muitos minerais: sulfetos metálicos (pirita FeS₂, galena PbS, esfalerita ZnS), sulfatos (gesso CaSO₄·2H₂O, barita BaSO₄), e em combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural). O ciclo do enxofre envolve processos biológicos, geológicos e atmosféricos complexos. As emissões vulcânicas, a decomposição de matéria orgânica e a atividade industrial (combustão de combustíveis fósseis) liberam dióxido de enxofre na atmosfera, contribuindo para a chuva ácida quando se transforma em ácido sulfúrico.

Papel em astrofísica e cosmoquímica

O enxofre é um elemento relativamente abundante no universo, produzido durante a nucleossíntese em estrelas massivas pela fusão de oxigênio e silício. Supernovas dispersam quantidades significativas de enxofre no meio interestelar. O enxofre tem sido detectado em muitos objetos celestes: atmosferas estelares, nebulosas, cometas, meteoritos e atmosferas planetárias. A lua Io de Júpiter apresenta vulcanismo ativo dominado pelo enxofre, dando à sua superfície uma cor amarelo-alaranjada característica. Os gêiseres de enxofre em Io ejetam dióxido de enxofre a centenas de quilômetros de altitude. Vênus tem nuvens contendo ácido sulfúrico em sua atmosfera. A detecção de compostos de enxofre como H₂S nas atmosferas de exoplanetas poderia constituir uma bioassinatura indireta.

Nota:
O enxofre fundido apresenta um comportamento viscoso extraordinário e contra-intuitivo. Quando o enxofre sólido é aquecido, funde-se em torno de 115 °C em um líquido amarelo claro e fluido. Mas ao ser aquecido além de 160 °C, o líquido torna-se repentinamente extremamente viscoso, quase sólido, passando de uma consistência semelhante à água para a de mel espesso, depois para a de melaço. Este fenômeno resulta da ruptura dos anéis S₈, que formam cadeias poliméricas emaranhadas. Ao ser aquecido ainda mais acima de 200 °C, a viscosidade diminui gradualmente novamente. Este comportamento único faz do enxofre fundido um sistema fascinante para estudar transições de fase e polimerização.

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