
O fósforo possui uma das histórias de descoberta mais fascinantes da química. Em 1669, o alquimista alemão Hennig Brand (c. 1630–c. 1710) procurava transformar metais vis em ouro. Ao aquecer e destilar grandes quantidades de urina humana, obteve uma substância branca que brilhava no escuro e inflamava-se espontaneamente ao contato com o ar. Ele chamou essa descoberta de fósforo (do grego phosphoros = portador de luz). Foi o primeiro elemento químico cuja descoberta e data são precisamente conhecidas. Em 1769, Carl Wilhelm Scheele (1742–1786) e Johan Gottlieb Gahn (1745–1818) descobriram que o fósforo poderia ser extraído dos ossos. Em 1777, Antoine Lavoisier (1743–1794) estabeleceu que o fósforo era um elemento químico e não um composto.
O fósforo (símbolo P, número atômico 15) é um não-metal do grupo 15 (antigamente grupo VA) da tabela periódica. Seu átomo possui 15 prótons, 15 elétrons e geralmente 16 nêutrons em seu único isótopo estável (\(\,^{31}\mathrm{P}\)).
O fósforo existe em várias formas alotrópicas com propriedades muito diferentes. O fósforo branco (P₄) é um sólido ceroso, branco-amarelado, altamente tóxico e pirofórico (inflama-se espontaneamente no ar a cerca de 30 °C). Densidade ≈ 1,82 g/cm³, ponto de fusão: 317,3 K (44,15 °C). O fósforo vermelho é uma forma polimérica amorfa, estável, não tóxica e não inflamável à temperatura ambiente. Densidade ≈ 2,16 g/cm³. O fósforo negro é a forma termodinamicamente estável, com uma estrutura em camadas semelhante ao grafite. Densidade ≈ 2,69 g/cm³. O fósforo violeta (ou fósforo de Hittorf) é outra forma alotrópica menos comum.
| Isótopo / Notação | Prótons (Z) | Nêutrons (N) | Massa atômica (u) | Abundância natural | Meia-vida / Estabilidade | Decaimento / Observações |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Fósforo-31 — \(\,^{31}\mathrm{P}\,\) | 15 | 16 | 30.973762 u | 100 % | Estável | Único isótopo estável do fósforo; essencial para toda a vida terrestre. |
| Fósforo-32 — \(\,^{32}\mathrm{P}\) | 15 | 17 | 31.973907 u | Não natural | 14,268 dias | Radioativo β\(^-\) que decai em enxofre-32. Amplamente usado em biologia molecular como traçador radioativo. |
| Fósforo-33 — \(\,^{33}\mathrm{P}\) | 15 | 18 | 32.971725 u | Não natural | 25,34 dias | Radioativo β\(^-\) que decai em enxofre-33. Usado em pesquisa biomédica. |
| Fósforo-30 — \(\,^{30}\mathrm{P}\) | 15 | 15 | 29.978314 u | Não natural | 2,498 minutos | Radioativo β\(^+\) e captura eletrônica que decai em silício-30. |
| Outros isótopos — \(\,^{24}\mathrm{P}\) a \(\,^{46}\mathrm{P}\) | 15 | 9 — 31 | — (variáveis) | Não naturais | Milissegundos a minutos | Isótopos muito instáveis produzidos artificialmente; pesquisa em física nuclear. |
N.B. :
Camadas eletrônicas: Como os elétrons se organizam ao redor do núcleo.
O fósforo possui 15 elétrons distribuídos em três camadas eletrônicas. Sua configuração eletrônica completa é: 1s² 2s² 2p⁶ 3s² 3p³, ou simplificada: [Ne] 3s² 3p³. Essa configuração também pode ser escrita como: K(2) L(8) M(5).
Camada K (n=1): contém 2 elétrons na subcamada 1s. Essa camada interna está completa e é muito estável.
Camada L (n=2): contém 8 elétrons distribuídos como 2s² 2p⁶. Essa camada também está completa, formando uma configuração de gás nobre (neônio).
Camada M (n=3): contém 5 elétrons distribuídos como 3s² 3p³. Os orbitais 3s estão completos, enquanto os orbitais 3p contêm apenas 3 dos 6 elétrons possíveis, com um elétron em cada um dos três orbitais 3p, de acordo com a regra de Hund. Portanto, faltam 3 elétrons para saturar essa camada externa.
Os 5 elétrons na camada externa (3s² 3p³) são os elétrons de valência do fósforo. Essa configuração explica suas propriedades químicas:
Ao ganhar 3 elétrons, o fósforo forma o íon P³⁻ (estado de oxidação -3), um estado presente em fosfetos metálicos, adotando assim a configuração do argônio [Ar].
Ao perder ou compartilhar elétrons, o fósforo pode apresentar estados de oxidação positivos: +3 e +5, sendo este último o mais comum, especialmente no ácido fosfórico H₃PO₄ e nos fosfatos.
O estado de oxidação 0 corresponde ao fósforo elementar, que existe em várias formas alotrópicas: fósforo branco (P₄, altamente reativo e tóxico) e fósforo vermelho (um polímero mais estável).
A configuração eletrônica do fósforo, com 5 elétrons em sua camada de valência, classifica-o entre os pnictogênios (elementos do grupo 15). Essa estrutura confere-lhe propriedades características: capacidade de formar três ligações covalentes compartilhando seus três elétrons 3p desemparelhados, possibilidade de expansão de sua camada de valência para formar até cinco ligações usando orbitais 3d vazios, e aptidão para formar ligações simples e múltiplas. O fósforo pode aceitar 3 elétrons para atingir a estabilidade de um gás nobre, mas esse estado iônico P³⁻ é raro devido ao seu grande tamanho. Mais comumente, o fósforo compartilha seus elétrons em ligações covalentes, formando compostos essenciais como os fosfatos. Sua importância biológica é crucial: o fósforo é um elemento constituinte do DNA, RNA e ATP (molécula energética das células). Na química industrial, é indispensável para a produção de fertilizantes fosfatados, detergentes e faz parte da composição de muitos compostos organofosforados.
O fósforo é um elemento muito reativo, especialmente em sua forma branca. Combina-se facilmente com oxigênio (formando P₄O₁₀ e P₄O₆), halogênios e enxofre. O fósforo branco deve ser armazenado sob água para evitar ignição espontânea. O fósforo forma compostos nos estados de oxidação -III, +III e +V. Os compostos mais importantes incluem fosfatos (PO₄³⁻), ácido fosfórico (H₃PO₄), fosfinas (PH₃), pentóxido de fósforo (P₂O₅) e compostos organofosforados. O fósforo pode formar ligações P-O, P-N, P-C e P-P, dando origem a uma química extremamente rica e variada.
O fósforo é um dos seis elementos químicos fundamentais da vida (C, H, N, O, P, S). É indispensável para todos os organismos vivos sem exceção. O fósforo é um componente estrutural do DNA e RNA (esqueleto fosfato-açúcar), membranas celulares (fosfolipídios) e ATP (adenosina trifosfato), a molécula universal de transferência de energia nas células. Também é o principal elemento nos ossos e dentes na forma de hidroxiapatita (Ca₁₀(PO₄)₆(OH)₂). O fósforo desempenha um papel crucial na regulação do pH sanguíneo, ativação enzimática e sinalização celular. Nas plantas, o fósforo é essencial para a fotossíntese, crescimento das raízes e formação das sementes. O ciclo do fósforo nos ecossistemas é fundamental, mas lento, muitas vezes tornando este elemento um fator limitante para o crescimento biológico.
O fósforo é extraído principalmente de depósitos de fosfato de cálcio (fosforita e apatita). Ao contrário do nitrogênio, que pode ser capturado da atmosfera, o fósforo deve ser minerado. As reservas mundiais de fosfatos estão concentradas em poucos países: Marrocos (mais de 70% das reservas mundiais), China, Argélia, Síria e África do Sul. Esta concentração geográfica levanta questões de segurança alimentar global, pois o fósforo é insubstituível para a agricultura. O fósforo não tem substituto conhecido na agricultura e sua reciclagem a partir de águas residuais e resíduos orgânicos está se tornando um grande desafio ambiental. O esgotamento progressivo dos depósitos de fosfatos de alta qualidade é preocupante para a produção futura de alimentos.
O fósforo é produzido em estrelas massivas durante as últimas fases de fusão nuclear, principalmente por captura de nêutrons. As supernovas dispersam o fósforo no meio interestelar. No entanto, o fósforo é relativamente raro no universo em comparação com outros elementos biogênicos como carbono, nitrogênio ou oxigênio. Sua raridade cósmica poderia ser um fator limitante para o surgimento da vida como a conhecemos em outros lugares do universo. Astrônomos detectaram fósforo em cometas, sugerindo que esses corpos celestes podem ter trazido este elemento essencial para a Terra primitiva. A busca por compostos de fósforo em exoplanetas e suas atmosferas poderia servir como uma bioassinatura indireta.
Nota:
O fósforo branco é uma das substâncias mais perigosas manipuladas em química. Ele inflama-se espontaneamente ao contato com o ar a cerca de 30 °C, produzindo uma luz esverdeada fantasmagórica e fumos tóxicos de pentóxido de fósforo. Queimaduras por fósforo branco são particularmente graves: o fósforo continua a queimar enquanto penetra nos tecidos, e as partículas devem ser removidas sob água, pois reacendem no ar. Historicamente, trabalhadores de fábricas de fósforo branco desenvolviam uma doença terrível chamada "mandíbula de fósforo" (necrose fosfórica da mandíbula), levando à sua proibição em fósforos no início do século XX.