Descrição da imagem: O nosso lugar na imensidão cósmica tem continuado a ser questionado e redefinido ao longo dos tempos, e este processo de evolução está longe de estar completo. Source image astronoo AI.
O antropocentrismo é uma visão de mundo em que o homem se coloca no centro do Universo e considera que tudo é feito por ele. É uma perspectiva que atribui valor preeminente à humanidade acima de todas as outras formas de vida e do ambiente natural.
O antropocentrismo manifesta-se tanto nas crenças religiosas, onde o homem é muitas vezes considerado uma criatura divina, como na interpretação do mundo onde possui características únicas, como a razão, a consciência ou a alma.
Numa perspectiva antropocêntrica, a natureza é muitas vezes vista como um recurso a ser explorado para satisfazer as necessidades e desejos humanos, sem considerar as consequências para outras espécies ou ecossistemas.
Durante milénios, a humanidade tem sido fascinada pela questão do seu lugar no Universo e do seu papel na grande teia cósmica. Ao longo dos séculos, esta busca foi marcada por uma série de descobertas e desafios que abalaram a nossa visão do mundo. Os avanços científicos e filosóficos corroeram gradualmente a ideia da excepcionalidade humana.
• A primeira lesão antrópica foi aquela que mostrou que a Terra não é o centro do cosmos.
A visão geocêntrica prevaleceu durante séculos, com a ideia de que a Terra era estacionária e todo o Universo girava em torno dela. No século XVI, a teoria heliocêntrica do astrónomo polaco Nicolau Copérnico (1473-1543) abalou as certezas e crenças profundamente enraizadas na sociedade da época. Copérnico propôs que o Sol, e não a Terra, estava no centro do sistema solar, questionando assim a visão antropocêntrica do Universo.
• A segunda lesão antropogénica foi aquela que deu ao homem uma importância particular na ordem das espécies vivas. Esta crença, profundamente enraizada em muitas culturas, fez do homem uma criatura divina à imagem dos Deuses.
Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publicou “A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural”.
Embora recebida com entusiasmo por muitos cientistas e pensadores progressistas, esta obra revolucionária gerou um sentimento de vergonha e inutilidade no mundo religioso da época.
O homem já não era tão perfeito como pensávamos, mas partilhava um ancestral comum com todas as outras formas de vida na Terra.
• Na década de 1910, o astrônomo americano Harlow Shapley (1885-1972) mostrou que o nosso Sol é uma estrela relegada a uma posição excêntrica na Via Láctea. Está longe do centro galáctico considerado na época o centro do Universo.
Os humanos estão percebendo que o seu Sol é apenas uma estrela anã comum perdida entre bilhões de outros sóis.
• Na década de 1920, Edwin Hubble (1889-1953) mostrou que a nossa Via Láctea não é o universo inteiro, mas simplesmente uma das muitas aglomerações de estrelas num cosmos muito maior.
A nossa galáxia, a Via Láctea, já não representa todo o universo, mas uma pequena parte da grande teia cósmica.
• Na década de 1990, a descoberta de planetas extrasolares mostrou que todas as estrelas têm planetas.
Diante da vertiginosa imensidão do universo e da multidão de planetas que o povoam, a ideia de que a humanidade é única e central no grande esquema cósmico parece cada vez menos provável. Isto diminui a importância relativa da humanidade, lembrando-nos que somos apenas uma pequena parte de um vasto e abundante universo.
• Na década de 2000, observações astronómicas revelaram a presença de moléculas orgânicas, os blocos básicos de construção da vida, em nuvens moleculares, atmosferas planetárias, nebulosas, cometas e meteoritos. Os meteoritos, que são fragmentos de rocha do espaço, muitas vezes contêm moléculas orgânicas complexas, incluindo aminoácidos, hidrocarbonetos e compostos orgânicos aromáticos. Estas moléculas fornecem pistas sobre a química prebiótica que pode ter ocorrido no início do Sistema Solar.
Os ingredientes necessários à vida estão espalhados por todo o Universo.
• Desde a década de 2000, observações astronômicas cada vez mais precisas confirmaram e refinaram a distribuição do universo em matéria comum (~5%), matéria escura (~23%) e energia escura (~72%).
A história do universo, rica em transformações, revela-nos que a matéria de que somos feitos é apenas um fragmento da realidade cósmica, muito maior e mais complexa.
• Em 2016, um estudo estimou o microbioma (essencialmente a microbiota intestinal humana) em cerca de 39 biliões de bactérias e o das células do corpo humano médio em cerca de 30 biliões.
As bactérias que vivem dentro de nós têm um impacto significativo na nossa fisiologia, no nosso sistema imunológico e até no nosso comportamento.
O organismo não é uma entidade individual e autônoma, mas um ecossistema complexo de células e bactérias humanas intimamente relacionadas que vivem em simbiose.
A fronteira tradicional entre “eu” e “não-eu” está cada vez mais confusa.
• Nos últimos anos, a comunicação não se limita mais à linguagem humana, mas revela-se como uma capacidade universal presente no reino animal e vegetal, conectando todas as formas de vida.
A linguagem humana caracteriza-se pela sua capacidade de facilitar a partilha de curiosidade e conhecimento, promovendo assim a cooperação e a acumulação colectiva de conhecimento.
Podemos ser os únicos que contamos histórias incríveis uns aos outros.
• En 2021, même l'intelligence, que l'on pensait autrefois exclusivement humaine, est challengée par les machines.
Les modèles d'intelligence artificielle, basés sur une simplification du fonctionnement des neurones biologiques, montrent que l'intelligence n'est qu'une émergence naturelle, issue d'un volume gigantesque de données.
• Hoje, a consciência não é mais um objeto puramente filosófico, mas um objeto de investigação científica.
Esta capacidade do nosso cérebro de se voltar para si mesmo, de compreender o seu próprio funcionamento, a sua história, a sua capacidade de dizer o que percebe e sente, é também uma emergência natural. Na neurociência, a consciência é uma pequena ponta do iceberg. É o “não-consciente” que é o essencial. Os mecanismos que nos fazem ouvir, ver, compreender a linguagem e todos os mecanismos ocultos são inconscientes e operam a toda velocidade em nosso cérebro.
O papel da humanidade no cosmos sempre foi objeto de questões e desafios, e esta busca de sentido continua a ser enriquecida por novas descobertas.
Todas estas “lesões antropogénicas” realçam as ilusões e erros em que os humanos estiveram presos durante séculos. Devemos nos acostumar com suas mudanças na perspectiva filosófica sentidas individual e coletivamente.
A vida surgiu da matéria, banhada num ambiente favorável.
Sabemos agora que fazemos parte de um todo maior do qual emergiu a humanidade.
Pertencemos inteiramente ao nosso meio ambiente, por isso devemos preservá-lo o maior tempo possível.