Em 2010, o telescópio espacial Spitzer, especializado em observação infravermelha, detectou em uma nebulosa planetária chamada Tc 1, localizada a cerca de 6.500 anos-luz, uma assinatura espectral inédita. Correspondia à de um fulereno — uma molécula esférica composta de 60 átomos de carbono (C₆₀) dispostos como os vértices de uma bola de futebol. Esta estrutura havia sido sintetizada na Terra em 1985 e batizada de "buckminsterfullereno" ou "buckyball", em homenagem ao arquiteto Buckminster Fuller. Foi a primeira vez que uma molécula tão complexa foi observada em um ambiente astrofísico.
As moléculas complexas se polimerizam e se montam para formar todas as estruturas úteis para a célula e, portanto, para a vida. Esses monômeros são compostos em grande parte por carbono. Daí a importância da descoberta dos buckyballs.
Os fulerenos têm uma estabilidade química notável, capaz de resistir a ambientes energéticos extremos. Sua detecção no espaço levanta questões fundamentais sobre a química do carbono dentro das estrelas moribundas. As assinaturas espectroscópicas do Spitzer, centradas em 7.0, 8.5, 17.4 e 18.9 µm, confirmaram sua presença em várias regiões, especialmente em invólucros de poeira ricos em carbono. Isso implica que a formação de moléculas complexas não necessita necessariamente da presença de vida ou água, mas pode resultar de um simples resfriamento da matéria estelar carbonácea.
Os buckyballs também atraem o interesse dos físicos de materiais. No laboratório, os fulerenos possuem propriedades eletrônicas, mecânicas e ópticas excepcionais. Eles são estudados no campo das nanotecnologias para criar supercondutores, agentes de contraste para imagens médicas ou gaiolas moleculares capazes de transportar medicamentos. O fato de a natureza produzir essas moléculas espontaneamente no espaço abre perspectivas fascinantes sobre a química pré-biótica e o potencial dos materiais interestelares.
Embora os fulerenos tenham sido identificados no espaço graças ao Spitzer, sua existência na Terra havia sido sugerida desde a década de 1990. A shungita, uma rocha carbonácea com mais de dois bilhões de anos encontrada na Carélia (Rússia), contém naturalmente vestígios de C₆₀ e C₇₀. Sua estrutura amorfa contém agregados carbônicos esféricos análogos aos buckyballs. Da mesma forma, alguns fulguritos, tubos de sílica formados por raios que atingem um solo rico em silicatos, revelaram a presença de fulerenos, resultado da energia extrema liberada durante o impacto. Essas ocorrências terrestres sugerem que condições transitórias, mas energéticas, podem ser suficientes para formar essas estruturas, sem intervenção biológica, confirmando sua naturalidade em ambientes muito diversos.
N.B.: A shungita é um mineral orgânico que só se encontra em um lugar do mundo: no noroeste da Rússia, na Carélia, na região de Shunga, perto do Mar Branco. O nome Shungita origina-se da região de extração dessa pedra. Às vezes é chamada de Schungita, chungita ou shungit.
N.B.: Os fulguritos ou "pedras de raio" (do latim fulgur, que significa raio) são pedaços de vidro natural muito frágeis, geralmente na forma de um tubo oco quase cilíndrico, produzidos por raios que atingem uma rocha.
A detecção de fulerenos no espaço pelo Spitzer demonstra a importância das interfaces entre química, física e astronomia. Essas moléculas complexas, anteriormente limitadas aos laboratórios terrestres, agora aparecem como constituintes naturais do meio interestelar. Esta descoberta reforça a ideia de que a matéria orgânica, na forma de estruturas sofisticadas, pode emergir em ambientes extremos, muito antes da aparição da vida, e pode viajar em escalas galácticas. Os buckyballs são, portanto, muito mais do que uma curiosidade: são uma ponte entre as estrelas e os átomos.