A mecânica quântica, disciplina fundada no início do século XX, revolucionou nossa concepção da realidade física. Fenômenos de emaranhamento, não-localidade, superposição de estados: esses conceitos desafiam nossa lógica intuitiva. De maneira surpreendente, alguns pesquisadores, pensadores e autores de divulgação científica tentaram aproximar esses fenômenos das concepções espirituais, ou seja, visões de mundo centradas na consciência, na intuição ou na percepção não materialista do universo.
Lançado em 2004 (e enriquecido em 2007), este filme documentário-ficção explora, através da ficção de uma fotógrafa deprimida, a ideia de que a realidade poderia ser "criada" pela consciência. Mobiliza noções da física quântica, da neurologia e da biologia celular, ao mesmo tempo em que integra uma forte dimensão metafísica.
Alguns participantes do filme, como Amit Goswami ou Fred Alan Wolf, sustentam que a consciência desempenha um papel fundamental no desenrolar dos eventos quânticos, uma ideia inspirada no colapso da função de onda na interpretação de Copenhague, mas radicalizada aqui até a ideia de que "nós criamos nossa realidade".
Os conceitos-chave mencionados no filme, como o experimento das fendas de Young ou o do gato de Schrödinger, são reais, mas sua interpretação "espiritualizada" levanta críticas importantes na comunidade científica. A afirmação de que "o pensamento influencia diretamente a matéria" não tem, até hoje, nenhum fundamento experimental robusto na física quântica.
No entanto, essas ideias encontram eco em um público em busca de sentido, talvez porque ofereçam uma visão unificada entre matéria, espírito e cosmos, onde o humano não é mais um simples espectador, mas um ator ontológico do real.
Conceito | Mecânica Quântica | Espiritualidade (Visão do Filme) | Ponto de Convergência |
---|---|---|---|
Observação | Colapso da função de onda durante a medição \(\psi \rightarrow |\phi\rangle\) | O observador "cria" a realidade que percebe | Importância dada à consciência do observador |
Emaranhamento | Duas partículas emaranhadas compartilham um estado não local | Tudo está interconectado, além do espaço e do tempo | Visão holística (global) do real |
Livre Arbítrio | Os sistemas quânticos evoluem de maneira probabilística | O pensamento influencia os resultados | Ideia de indeterminação explorável pela vontade |
Tempo | Simetria temporal da equação de Schrödinger | Tempo percebido como ilusão ou consciência dinâmica | Questionamento do tempo linear |
Fontes: Physics Education – Interpretações da MQ, Rev. Mod. Phys. – Decoerência e interpretação, IMDb – What the Bleep Do We Know!?.
Ao longo do tempo, formamos um modelo da realidade do mundo e cada geração faz suposições sobre essa realidade, mas na imensa maioria dos casos, elas se revelam falsas para as gerações seguintes. Muitas coisas que considerávamos certas simplesmente se tornam falsas algumas décadas depois. Somos, portanto, prisioneiros desses preceitos sem saber.
A verdadeira magia da vida não está em ser na realidade, mas no mistério. Somos condicionados pelo nosso modelo e aceitamos que o mundo real é como o vemos, mas só vemos a ponta do iceberg.
Recebemos constantemente informações em grande quantidade; o cérebro analisa 400 bilhões de informações por segundo e registramos apenas 2000, aquelas que mais nos interessam. São as que concernem ao nosso corpo, ao nosso entorno e ao nosso tempo. Nossos sentidos filtram a realidade em cada etapa.
No mundo subatômico, há muita energia em espaços reduzidos e em um tempo muito breve. A matéria não é o que acreditamos durante séculos.
Pensamos que o universo está quase vazio e que a matéria é sólida, mas na matéria não há nada, é o vazio. As partículas fundamentais ocupam uma quantidade insignificante do volume do átomo ou da molécula; as partículas aparecem e desaparecem constantemente neste vazio.
A ciência física permanece baseada em medições objetivas, reprodutíveis e matematicamente formalizadas. Mas isso não impede de explorar as implicações filosóficas de seus conceitos mais intrigantes. Se a mecânica quântica não prova que a consciência "cria" a realidade, ela convida, no entanto, a questionar nossa visão clássica do mundo.
Em última análise, a fascinação por essas pontes entre ciência e espiritualidade talvez reflita uma aspiração profunda de compreender nosso lugar no universo: uma busca onde o rigor da física poderia coexistir com a intuição humana, desde que se separe claramente a observação, a interpretação e a crença.
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