Muito antes de o termo "nanopartícula" existir, os artesãos da antiguidade já utilizavam, sem saber, materiais nanostruturados.
A famosa Taça de Licurgo (século IV d.C.) e os vitrais medievais devem suas cores mutantes à presença de nanopartículas de ouro ou prata.
Foi apenas no século XIX que Michael Faraday (1791-1867) estudou os coloides metálicos, abrindo caminho para uma compreensão científica dos efeitos relacionados ao tamanho nanométrico.
O século XX viu uma aceleração das descobertas, culminando com a palestra visionária em 1959 de Richard Feynman (1918-1988), que imaginou a manipulação da matéria na escala atômica. A invenção do microscópio de efeito túnel em 1981 marcou um ponto de virada, permitindo a observação e manipulação direta dos átomos.
Desde a década de 1980, as nanotecnologias têm experimentado um crescimento exponencial, tornando as nanopartículas um pilar fundamental da pesquisa contemporânea, com aplicações que vão desde a medicina até a eletrônica e o meio ambiente.
Uma nanopartícula é um objeto cuja pelo menos uma das dimensões está entre 1 e 100 nanômetros (nm). Para efeito de comparação, um fio de cabelo humano mede aproximadamente 80.000 nm de diâmetro. Essa escala nanométrica corresponde a apenas algumas dezenas ou centenas de átomos. Nesses tamanhos, as propriedades físicas, químicas e biológicas dos materiais mudam radicalmente: elas não seguem apenas as leis clássicas da física, mas se inserem em uma zona intermediária onde os efeitos quânticos se tornam dominantes.
As nanopartículas estão em uma interface onde as disciplinas da química e da física se entrelaçam.
Do ponto de vista físico, elas obedecem a leis quânticas: o confinamento eletrônico, a quantização dos níveis de energia e o efeito túnel modificam a maneira como os elétrons se comportam nessas escalas.
Do ponto de vista químico, sua superfície altamente reativa influencia a cinética e a termodinâmica das reações. Assim, uma nanopartícula pode catalisar uma reação que, de outra forma, seria impossível na escala macroscópica.
Essa dualidade exige uma abordagem interdisciplinar para compreender, modelar e explorar os efeitos emergentes, especialmente por meio de ferramentas como a espectroscopia eletrônica, a microscopia de força atômica (AFM) ou as simulações moleculares ab initio.
As nanopartículas podem ser naturais (provenientes de vulcões, incêndios ou processos biológicos) ou artificiais (sintetizadas por processos físico-químicos como condensação, precipitação ou litografia). Sua superfície específica muito alta (até 1000 m²/g) as torna catalisadores ideais.
Além disso, seu comportamento óptico (como a cor de uma solução de nanopartículas de ouro), sua condutividade térmica ou elétrica e sua reatividade química dependem fortemente de seu tamanho. O confinamento eletrônico e os efeitos de superfície dominam sobre as propriedades maciças habituais.
As nanopartículas são usadas em muitos campos: em medicina (direcionamento de tumores, vetores de RNA ou medicamentos), em eletrônica (transistores mais finos, armazenamento de dados), em óptica (telas, sensores, materiais fotônicos) e em aplicações ambientais (despoluição, filtros de ar).
Seu pequeno tamanho permite que atravessem membranas celulares, o que é tanto uma vantagem quanto um risco: sua potencial toxicidade para os organismos vivos e o meio ambiente é um tema de pesquisa ativa.
A compreensão das interações entre esses objetos nanoscópicos e a matéria biológica está no cerne das nanociências.