As bolhas Lyman-alpha são regiões extensas de gás de hidrogênio neutro ionizado pela intensa radiação ultravioleta emitida pelas primeiras galáxias formadas no Universo jovem. Este fenômeno ocorre durante a era da reionização cósmica, uma fase chave entre aproximadamente 400 milhões e 1 bilhão de anos após o Big Bang, onde o gás intergaláctico passa de um estado neutro para um estado ionizado. A observação e modelagem dessas bolhas permitem estudar a natureza das primeiras fontes de luz, a estruturação do Universo primordial, bem como os mecanismos físicos relacionados à difusão e absorção da radiação Lyman-alpha.
A radiação Lyman-alpha corresponde à transição eletrônica de um átomo de hidrogênio quando o elétron cai do nível 2 para o nível fundamental 1, com um comprimento de onda no vácuo de \(\lambda_{Ly\alpha} = 121.567\) nm, no ultravioleta próximo. A linha Lyman-alpha é extremamente ressonante, o que significa que os fótons emitidos são muito fortemente espalhados pelo hidrogênio neutro circundante. Esse espalhamento múltiplo leva a perfis espectrais complexos e a uma espacialização estendida do sinal observado, muitas vezes na forma de bolhas.
A formação de uma bolha Lyman-alpha começa com a emissão de fótons ionizantes UV de estrelas jovens massivas ou de buracos negros supermassivos nascentes nas primeiras galáxias. Esses fótons ionizam o gás neutro circundante, formando uma região de hidrogênio ionizado (HII). A recombinação de prótons e elétrons nessa região emite fótons Lyman-alpha, que então escapam para o Universo circundante. O tamanho típico dessas bolhas é da ordem de várias centenas de kiloparsecs a alguns megaparsecs, dependendo da luminosidade das fontes e da densidade do meio.
A evolução temporal e espacial dessas bolhas é governada pela equação de transferência radiativa acoplada à dinâmica hidrodinâmica e à química do hidrogênio. Modelos numéricos resolvem a equação de Boltzmann para a distribuição dos fótons Lyman-alpha: \( \frac{1}{c}\frac{\partial I_{\nu}}{\partial t} + \mathbf{n} \cdot \nabla I_{\nu} = -\kappa_{\nu} I_{\nu} + j_{\nu} \)
As bolhas Lyman-alpha são detectadas principalmente por sua emissão difusa em Lyman-alpha em altos redshifts (\(z \sim 6-10\)), usando instrumentos sensíveis a comprimentos de onda deslocados para o infravermelho próximo. Essas observações fornecem restrições sobre:
As bolhas Lyman-alpha, por seu tamanho e distribuição, traçam a topologia da reionização, um parâmetro crucial para validar os modelos cosmológicos de formação estrutural.
As bolhas Lyman-alpha representam testemunhas essenciais da era cósmica em que as primeiras estruturas luminosas transformaram o Universo. Elas são impressões fósseis do amanhecer galáctico. Elas permitem compreender o fim das "Idades das Trevas" de ≈ 380.000 anos (fim da recombinação após o Big Bang) a 500 milhões a 1 bilhão de anos após o Big Bang (início da reionização, desencadeada pelas primeiras estrelas e galáxias).