Última atualização 27 de junho de 2015
Mauna Kea sob as Estrelas: O Telescópio CFHT na Busca dos Mistérios do Universo
Um telescópio internacional no topo do Pacífico
O Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT), operacional desde 1979, é um instrumento astronômico de 3,6 metros de diâmetro localizado a 4204 metros de altitude no vulcão Mauna Kea, no Havaí. Fruto de uma colaboração entre o Canadá, a França e a Universidade do Havaí, ele encarna um exemplo de cooperação científica internacional em astronomia. A escolha do Mauna Kea não é aleatória: suas condições atmosféricas—estabilidade, baixa umidade, ausência de poluição luminosa—fazem dele um dos melhores locais de observação astronômica do mundo.
Tecnologia óptica e instrumentos de ponta
Equipado com um espelho primário hiperbólico de 3,6 metros, o CFHT foi um dos primeiros telescópios a explorar plenamente a técnica de óptica ativa, garantindo a estabilidade de sua superfície em algumas dezenas de nanômetros. Graças a uma cúpula termicamente muito estável e uma estrutura compacta, ele reduz significativamente as turbulências internas. Ele está equipado com vários instrumentos de ponta, incluindo:
- ESPADONS: um espectropolarímetro para o estudo dos campos magnéticos estelares;
- WIRCam: uma câmera infravermelha de grande campo, ideal para o estudo de galáxias distantes;
- MegaCam: uma câmera óptica de 340 milhões de pixels cobrindo um campo de um grau quadrado, usada para pesquisas cosmológicas como o CFHTLS (CFHT Legacy Survey).
Um papel central na cosmologia e astrofísica
O CFHT desempenhou um papel fundamental em várias áreas-chave:
- o mapeamento da matéria escura através de efeitos de lente gravitacional fraca;
- a deteção de exoplanetas por trânsito ou microlente;
- a busca por supernovas distantes, contribuindo para o estudo da aceleração da expansão cósmica;
- a formação estelar em berçários galácticos como Órion ou Touro.
Uma sentinela astronômica respeitosa
A operação do CFHT ocorre em um contexto cultural e ambiental sensível. O Mauna Kea é um local sagrado para os havaianos, e protocolos rigorosos visam minimizar o impacto das infraestruturas científicas no ecossistema e nas tradições locais. O CFHT insere-se assim em uma abordagem de ciência respeitosa, atenta às dimensões humanas e naturais do seu ambiente.
Principais descobertas realizadas graças ao CFHT
Durante mais de quatro décadas, o CFHT contribuiu para importantes avanços científicos em astronomia.
- Mapeamento da matéria escura: o CFHTLS (programa de observação de longo prazo, realizado entre 2003 e 2009) permitiu mapear a distribuição da matéria escura em grande escala graças às lentes gravitacionais fracas, validando o modelo cosmológico ΛCDM (Lambda-Cold Dark Matter).
- Descoberta de exoplanetas: o projeto Planeta CFHT permitiu a detecção de numerosos exoplanetas, nomeadamente através do método de trânsito e da velocidade radial. O espectropolarímetro ESPaDOnS também desempenhou um papel fundamental na caracterização das atmosferas planetárias e dos campos magnéticos estelares.
- Galáxias com alto desvio para o vermelho: com WIRCam e MegaCam, o CFHT detectou galáxias distantes cuja luz foi emitida há cerca de 12,8 mil milhões de anos (z > 6), fornecendo informações cruciais sobre a época da reionização do universo.
- Estudo de supernovas: o programa SNLS (Supernova Legacy Survey), realizado com a MegaCam, identificou centenas de supernovas do tipo Ia, utilizadas como velas padrão para medir a expansão acelerada do universo, confirmando a existência da energia escura.
- Corpos menores do Sistema Solar: o CFHT identificou muitos objetos transneptunianos (TNO), nomeadamente no cinturão de Kuiper, revelando a complexidade dinâmica das regiões externas do Sistema Solar.
Graças à estabilidade dos seus instrumentos, ao seu céu excepcional e à longevidade dos seus programas de observação, o CFHT continua a ser um dos telescópios mais prolíficos nos domínios da cosmologia, da física estelar e da formação planetária.
Rumo a uma nova geração de observações
Previsto para uma reconversão nos próximos anos, o CFHT deverá evoluir para o projeto MSE (Maunakea Spectroscopic Explorer): um telescópio espectroscópico de 11 metros, dedicado ao estudo das grandes estruturas do universo. Esta transição, apoiada pela comunidade científica internacional, permitirá tirar partido da infraestrutura existente, ao mesmo tempo que se ultrapassam os limites da espectroscopia multi-objetos.