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Última atualização: 2 de novembro de 2025

Devolução Biológica: Um Motor Oculto da Biodiversidade

Ilustração da devolução biológica, mostrando a simplificação de organismos marinhos

Devolução: Outra Visão da Evolução das Espécies

Desde Charles Darwin (1809-1882), a teoria da evolução baseia-se no princípio da seleção natural. Esta favorece a transmissão de características melhor adaptadas ao ambiente. No imaginário coletivo, essa evolução é frequentemente percebida como uma progressão linear em direção a uma complexidade crescente. No entanto, a natureza mostra que a evolução não tem uma direção privilegiada: ela também pode levar a formas simplificadas, perda de órgãos ou até mesmo a uma verdadeira devolução.

A evolução não tem direção nem finalidade. Ela explora as possibilidades oferecidas pelo ambiente e conserva o que funciona, mesmo que isso signifique uma simplificação aparente. Como destacava Stephen Jay Gould (1941-2002), a complexidade é apenas uma consequência acidental da vida, não seu destino. A devolução lembra que a natureza não "progride", ela se adapta.

N.B.:
O termo devolução não é reconhecido como um conceito formal pela biologia moderna. Trata-se de uma descrição metafórica para designar os processos de perda funcional ou simplificação evolutiva.

"A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural"

Em sua teoria "A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida" (1859), Charles Darwin nunca usa a palavra "evolução". O termo aparece apenas uma vez, e somente na última edição (a 6ª, de 1872), na frase final: "Há grandeza nesta concepção de vida... a partir de um começo tão simples, formas inumeráveis, as mais belas e maravilhosas, têm sido e ainda são geradas por evolução."

Darwin desconfiava da palavra "evolução", pois antes dele, ela designava principalmente um desenvolvimento pré-programado, um desdobramento de um plano interno (notadamente em Lamarck), enquanto sua teoria se baseava justamente na ausência de plano ou direção.

A Devolução, ou a Arte de Perder para Ganhar

Quando a Simplificação se Torna uma Vantagem

A ascensão contínua em direção a maior inteligência, tamanho e perfeição é uma visão tingida de antropocentrismo, um equívoco sobre a teoria de Charles Darwin. Às vezes, a melhor adaptação é regressar.

A devolução não é uma "regressão" no sentido pejorativo. Ela descreve, antes, um fenômeno evolutivo em que um organismo perde características complexas em favor de uma forma mais simples. Não é um retorno a um ancestral, mas uma nova adaptação por subtração. A força motriz não é a "regressão", mas uma pressão seletiva que favorece a simplicidade quando a complexidade se torna um fardo.

A Ilusão do Progresso: Quando a Evolução Regride

Toda estrutura complexa tem um custo. Cada órgão, rede celular ou gene expresso consome energia, requer controle genético e manutenção. Quando o ambiente não exige mais certas funções, a pressão seletiva que as mantinha desaparece. A espécie ganha em eficiência energética ao simplificar sua arquitetura biológica.

Exemplos de Devolução Biológica
OrganismoCaracterística Perdida ou SimplificadaCausa ou Contexto AdaptativoComentário
Peixe cavernícola Astyanax mexicanusPerda dos olhos e da pigmentaçãoVida na escuridão total, economia de energiaPerder a visão não é um "erro" da evolução; é uma adaptação notável que permitiu a essas espécies conquistar um nicho ecológico extremo.
Tênia (Taenia solium)Desaparecimento do tubo digestivoAbsorção direta dos nutrientes do hospedeiroRedução extrema do metabolismo e perda do sistema digestivo, resultando em uma especialização parasitária completa, onde o organismo sobrevive absorvendo diretamente os nutrientes de seu hospedeiro.
Cobras
(descendentes de lagartos)
Membros anteriores
Membros posteriores
Adaptação à escavação
Locomoção por ondulação
A perda dos membros está correlacionada a estilos de vida escavadores ou locomoção por ondulação do corpo, mais eficiente para se mover em tocas ou perseguir presas.
Baleia (Balaenoptera musculus)Perda dos membros posterioresAdaptação completa ao ambiente aquáticoMembros traseiros seriam uma fonte de arrasto e tornariam a natação muito menos eficiente.
Pinguim (Aptenodytes forsteri)Perda do vooTransformação das asas em nadadeirasConversão aerodinâmica para hidrodinâmica, para propulsão eficiente debaixo d'água.
Avestruz (Struthio camelus)Incapacidade de voarAdaptação à corrida terrestre rápidaEnergia redirecionada para a corrida: As asas residuais servem para equilíbrio e exibição nupcial.
Formiga cortadeira
Atta cephalotes
Capacidade de digerir
celulose
Simbiose com fungo
Divisão do trabalho
Ao externalizar sua digestão de celulose para fungos simbióticos, perderam essa capacidade fisiológica, favorecendo uma especialização coletiva onde cada membro da colônia contribui para um sistema alimentar mutualista.
Ave Apteryx australis (kiwi)Redução das asas e dos olhosVida noturna e terrestre nas florestas da Nova ZelândiaSua plumagem regressou para uma textura macia semelhante a pelos, enquanto suas narinas terminais e olfato hiperdesenvolvido compensam essa simplificação, tornando-o um predador noturno especializado.
Anfíbio Proteus anguinusPerda dos olhos funcionaisVida subterrânea em cavernas calcáriasÓrgãos visuais atrofiados substituídos por sensibilidade cutânea à luz.

O Enigma da Complexidade Crescente: Acaso e Necessidade

Como a natureza, sem intenção ou direção, produz uma organização crescente da matéria viva, desde a célula primitiva até organismos multicelulares complexos?

A resposta está na termodinâmica dos sistemas abertos e na lógica da auto-organização.

A Força Oculta: Processos Cegos, Resultados Organizados

A evolução biológica não é um progresso, mas uma exploração de possibilidades. A evolução não tem propósito (nenhum objetivo de avançar em direção à complexidade). Cada transformação biológica é simplesmente o resultado de restrições locais: mutações aleatórias, interações físicas e químicas, e seleção natural em um ambiente dado. Algumas dessas restrições favorecem a emergência de estruturas estáveis, ou seja, mais organizadas.

Assim, a complexidade crescente que observamos na biosfera não é uma tendência universal, mas um efeito colateral da física dos sistemas dissipativos.

Os Sistemas Vivos como Estruturas Dissipativas

Um sistema vivo é um sistema aberto, longe do equilíbrio termodinâmico. Ele troca continuamente matéria e energia com seu ambiente. De acordo com a teoria de Ilya Prigogine (1917-2003), esses sistemas podem se auto-organizar quando o fluxo de energia excede um certo limiar crítico.

N.B.:
Princípio: Um fluxo constante de energia pode manter uma estrutura ordenada, desde que haja dissipação de entropia para o exterior.

Da Célula Simples à Célula com Núcleo (Eucarionte)

A transição para a célula eucarionte não é um "progresso", mas o resultado de uma simbiose estabilizada. Uma célula primitiva (arqueia) integrou uma bactéria aeróbica, que se tornou uma mitocôndria. Esse processo de endossimbiose permitiu explorar a energia de forma mais eficiente, aumentando assim a capacidade de auto-organização. É uma transição energética antes de ser hierárquica.

A Magia dos Processos Cegos: Emergência e Seleção

Quando células semelhantes cooperam para gerenciar melhor os fluxos de energia e nutrientes, surgem naturalmente diferenciações funcionais. Algumas células se especializam em estrutura, outras em reprodução e outras em comunicação.

Cada nível de organização (célula → tecido → órgão → organismo) não é o produto de um "plano", mas de uma estabilização progressiva das interações. Quanto mais um sistema troca energia e mantém memória (informação genética, epigenética ou química), mais ele pode se estruturar sem perder seu equilíbrio dinâmico. Do ponto de vista físico, manter uma estrutura ordenada e complexa requer um fluxo constante de energia.

\( \text{Complexidade} \approx \text{Estabilidade} + \text{Fluxo de Energia} + \text{Informação Conservada} \)

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