As nebulosas do Coração (IC 1805) e da Alma (IC 1848) estão localizadas na constelação de Cassiopeia, a cerca de 7.500 anos-luz da Terra, no braço de Perseu da Via Láctea. Cada uma se estende por quase 200 anos-luz e faz parte de uma vasta nuvem molecular.
Observáveis com telescópios equipados com filtros Hα, elas aparecem como uma dupla estrutura cósmica: o Coração e a Alma. Estas nebulosas são particularmente brilhantes na linha do hidrogênio ionizado, produzindo a cor vermelha característica vista em fotografias astronômicas.
N.B.: O hidrogênio ionizado, denominado H II, corresponde a um átomo de hidrogênio que perdeu seu único elétron devido à radiação ultravioleta emitida por estrelas massivas. Este plasma, constituído apenas por prótons e elétrons livres, é a origem das regiões H II, verdadeiros "berçários" estelares, pois revela as zonas de formação de estrelas. A energia necessária para ionizar o hidrogênio é de 13,6 eV.
As "nebulosas do Coração e da Alma" são duas imensas nuvens de gás e poeira em nossa galáxia. Elas brilham porque seus átomos de hidrogênio são fortemente excitados pela luz de estrelas muito quentes e massivas. Estas regiões são ao mesmo tempo berços estelares, onde novas estrelas nascem graças ao colapso de zonas mais densas de gás e poeira.
Além de sua beleza visual, estas nebulosas são o palco de processos físicos complexos: a luz das estrelas modifica a matéria, os movimentos do gás esculpem as nuvens e a química do meio interestelar prepara a formação de futuras estrelas. Elas oferecem assim um vislumbre único de como o Universo recicla sua matéria para criar novas gerações de astros.
Para estudar as nebulosas, os astrônomos analisam a luz que elas emitem. Certas linhas espectrais, como a famosa linha Hα do hidrogênio ou as do oxigênio ([O III] a 500,7 nm) e do nitrogênio ([N II] a 658,4 nm), agem como verdadeiras "sondas". Elas permitem determinar duas grandezas-chave: a temperatura do gás e sua densidade de elétrons. Comparando a intensidade relativa destas linhas e utilizando modelos de fotoionização, pode-se deduzir a eficiência da radiação estelar que ioniza o gás, bem como as condições físicas precisas que reinam no interior da nebulosa.
Nas nebulosas, a poeira desempenha um papel essencial. Ela absorve parte da luz muito energética das estrelas massivas e depois reemite esta energia na forma de radiação infravermelha. Este processo aquece o ambiente e influencia a distribuição da temperatura. Além disso, na superfície dos grãos de poeira cobertos de gelo, podem ocorrer reações químicas, dando origem a moléculas complexas, às vezes consideradas como tijolos da vida.
Nas regiões mais densas das nebulosas, a gravidade pode acabar prevalecendo sobre as forças que mantêm o gás em equilíbrio (calor, turbulências, campos magnéticos). Quando isso acontece, a matéria colapsa sobre si mesma e forma "núcleos" que se tornarão estrelas. O tamanho mínimo destes núcleos é definido pelo que os astrofísicos chamam de "comprimento de Jeans", um critério que fixa a massa além da qual uma nuvem pode colapsar para formar uma nova estrela.
Para compreender estes processos, os astrônomos combinam diferentes comprimentos de onda: a luz visível (por exemplo, a linha Hα do hidrogênio), o infravermelho e as ondas de rádio. Comparando estas imagens, pode-se mapear a poeira, medir a extinção da luz, acompanhar os movimentos do gás e assim relacionar a presença de estrelas em formação com a ionização e a distribuição da matéria na nebulosa.
Esta tabela destaca que as nebulosas do Coração e da Alma fazem parte de uma grande família de regiões H II gigantes, muitas vezes ligadas a aglomerados abertos jovens e muito ricos em estrelas massivas.
Vemos que as nebulosas do Coração e da Alma estão entre as mais massivas (\(10^{5}\ M_{\odot}\)), comparáveis à Roseta, e muito mais ricas em gás do que Órion ou a Trífida, que são menores, mas muito estudadas devido à sua proximidade.
Nebulosa | Designação | Constelação | Distância (anos-luz) | Tamanho aparente | Massa de gás (M☉) | Particularidades |
---|---|---|---|---|---|---|
Nebulosa do Coração | IC 1805 | Cassiopeia | ≈ 7.500 | ~ 2° | ~ 2 × 105 | Região H II ionizada pelo aglomerado aberto Melotte 15 |
Nebulosa da Alma | IC 1848 | Cassiopeia | ≈ 7.500 | ~ 2° | ~ 1,5 × 105 | Conhecida por seus "glóbulos de Bok" (locais de formação estelar) |
Nebulosa da Águia | Messier 16 | Serpente | ≈ 6.500 | 70′ × 50′ | ~ 8 × 104 | Abriga os famosos "Pilares da Criação" |
Nebulosa de Órion | Messier 42 | Órion | ≈ 1.350 | 65′ × 60′ | ~ 2 × 104 | Região H II mais próxima da Terra, laboratório de formação estelar |
Nebulosa da Roseta | NGC 2237 | Unicórnio | ≈ 5.200 | 1,3° | ~ 1 × 105 | Grande cavidade esculpida por um aglomerado aberto central (NGC 2244) |
Nebulosa da Lagoa | Messier 8 | Sagitário | ≈ 4.100 | 90′ × 40′ | ~ 6 × 104 | Apresenta estruturas escuras de poeira em contraste |
Nebulosa da Trífida | Messier 20 | Sagitário | ≈ 5.200 | 28′ | ~ 1 × 104 | Mistura rara de emissão, reflexão e absorção |
Em astronomia, o termo nebulosa é bastante genérico: designa simplesmente uma nuvem interestelar de gás e poeira, mas existem vários tipos físicos distintos:
Tipo | Composição principal | Fonte de energia | Aspecto observado | Exemplos |
---|---|---|---|---|
Nebulosas H II | Hidrogênio ionizado (H⁺), gás + poeira | Radiação UV intensa de estrelas jovens massivas (O, B) | Regiões brilhantes em Hα, muitas vezes coloridas de vermelho | Órion (M42), Roseta, Coração e Alma |
Nebulosas Escuras | Gás neutro (H₂) e poeira opaca | Absorção e difusão da luz de estrelas de fundo | Silhuetas escuras contrastando com o fundo estelar | Saco de Carvão, Cabeça de Cavalo, Barnard 68 |
Nebulosas Planetárias | Gás ejetado de estrelas no fim de vida (H, He, C, O…) | Radiação UV da anã branca central | Anéis ou cascas brilhantes, simétricos | Lira (M57), Hélice, Olho de Gato |
Restos de Supernova | Gás ejetado enriquecido com elementos pesados (O, Si, Fe…) | Energia cinética da explosão + radiação do pulsar central | Filamentos luminosos, estruturas em expansão | Caranguejo (M1), Véu do Cisne, Cas A |
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