Tritão foi descoberto em 1846 pelo astrónomo britânico William Lassell (1799–1880), apenas 17 dias após a descoberta de Neptuno. É o maior satélite do planeta, com raio médio de \(R = 1 353\ \mathrm{km}\) e densidade média de \(\rho \approx 2,06\ \mathrm{g.cm^{-3}}\), indicando uma mistura de gelo e silicatos. Tritão orbita Neptuno a uma distância média de \(a = 354 800\ \mathrm{km}\) e possui uma característica marcante: o seu movimento é retrógrado, ou seja, oposto à rotação do planeta.
O movimento retrógrado de Tritão, combinado com a sua inclinação orbital (157°) e alta densidade, sugere que não se formou em torno de Neptuno, mas sim que é um objeto capturado do Cinturão de Kuiper. Simulações dinâmicas mostram que uma interação de três corpos ou uma colisão com um satélite primitivo de Neptuno poderia ter retardado Tritão o suficiente para ficar preso gravitacionalmente. Este cenário de captura provavelmente perturbou profundamente o sistema original de satélites de Neptuno, levando à sua ejeção ou destruição.
Durante o sobrevoo da Voyager 2 em 1989, a superfície de Tritão revelou-se surpreendentemente jovem, com muito poucos crateramentos. Observam-se planícies de gelo de nitrogénio cortadas por fraturas, calotas polares brilhantes e estruturas circulares que sugerem criovulcanismo ativo. Vários penachos com até 8 km de altura foram fotografados, evidenciando erupções de gás de nitrogénio provenientes de camadas superficiais aquecidas pelo Sol.
Tritão possui uma atmosfera ténue composta principalmente por nitrogénio (\(N_2\)) com traços de metano (\(CH_4\)) e monóxido de carbono (\(CO\)). A pressão ao nível da superfície é de cerca de \(1,4\ \mathrm{Pa}\), aproximadamente 70 000 vezes inferior à da Terra. A temperatura média é cerca de \(38\ \mathrm{K}\) (–235 °C), tornando-o um dos corpos mais frios do Sistema Solar. Observações recentes sugerem que esta atmosfera sofre variações sazonais ligadas à sublimação e condensação do gelo polar de nitrogénio.
Modelos de equilíbrio hidrostático indicam que Tritão é diferenciado, com um núcleo rochoso denso rodeado por um manto de gelo de água. O calor residual devido à decomposição radioativa e forças de maré antigas poderá manter um oceano interno parcialmente líquido, possivelmente contendo amoníaco (\(NH_3\)) a atuar como anticongelante. Se este oceano persistir, poderá constituir um ambiente potencialmente favorável à química prebiótica.
Lua | Planeta | Diâmetro (km) | Densidade (g/cm³) | Temperatura média (°C) | Atmosfera | Características físicas |
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Ganimedes | Júpiter | 5268 | 1.94 | -163 | Oxigénio (traço) | Maior lua do Sistema Solar, campo magnético interno |
Titã | Saturno | 5150 | 1.88 | -179 | Nitrogénio, metano | Densidade atmosférica maior que a da Terra, lagos de hidrocarbonetos |
Calisto | Júpiter | 4820 | 1.83 | -139 | Oxigénio (traço) | Superfície muito craterada, estrutura interna pouco diferenciada |
Io | Júpiter | 3643 | 3.53 | -143 | Enxofre e dióxido de enxofre | Vulcanismo ativo, interior aquecido por marés gravitacionais |
Europa | Júpiter | 3122 | 3.01 | -160 | Oxigénio (traço) | Oceano subterrâneo global, superfície lisa de gelo fracturado |
Tritão | Neptuno | 2707 | 2.06 | -235 | Nitrogénio, metano (fina) | Rotação retrógrada, criovulcanismo ativo, superfície jovem e gelada |
Titânia | Urano | 1578 | 1.71 | -203 | — | Fendas tectónicas, sinais de aquecimento interno passado |
Oberon | Urano | 1523 | 1.63 | -203 | — | Superfície escura e craterada, composição mista gelo/rocha |
Caronte | Plutão | 1212 | 1.70 | -220 | Nitrogénio (traço) | Rotação síncrona, fendas e criovulcanismo antigo |
Encélado | Saturno | 504 | 1.61 | -201 | Vapor de água (plumas) | Jatos criovulcânicos, oceano interno salgado, atividade geotérmica |
Fontes: NASA / JPL – Missão Voyager 2, ESA – Dados Científicos.
Tritão é um alvo importante para exploração planetária: a sua superfície jovem, atividade criovulcânica e natureza de objeto capturado fazem dele um laboratório único para compreender os processos geológicos do Sistema Solar exterior. A missão Trident, proposta pela NASA, planeia um sobrevoo detalhado por volta de 2038 para caracterizar a sua atmosfera, topografia e avaliar a presença de um oceano interno.